Há certos locais do mundo que chocam por terem sido palco de histórias terríveis, como exemplo temos os campos de concentração, locais de terrorismo, de guerras e de tragédias naturais. O complexo dos Túneis Cu Chi é um desses lugares e para entendê-lo, é preciso compreender o cenário da época em que foi construído, a Guerra do Vietnã.
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História resumida: Guerra do Vietnã
Para quem não se recorda muito bem, aqui vai um resumo bem breve: Durante a Guerra Fria, o mundo ficou dividido entre duas ideologias: capitalista, sob domínio norte americano, e socialista, sob domínio da antiga União Soviética. O Vietnã foi um país que ficou dividido, sendo o norte socialista e o sul capitalista.
Com a entrada dos Estados Unidos no país, iniciou-se então a Guerra do Vietnã (também conhecida pelos vietnamitas como Guerra Americana), que se estendeu entre 1955 – 1975. Em 1973 houve a retirada das tropas norte-americanas e em 1975 o Vietnã foi reunificado como República Socialista do Vietnã. Os vietnamitas venceram a guerra através do conhecimento sobre a região, e utilização de armas e armadilhas simples, porém muito bem planejadas.
História Resumida: Túneis Cu Chi
Os túneis Cu Chi foram construídos pelo vietcongues durante a Guerra do Vietnã. Vietcongues foi um grupo do Vietnã do Sul que lutou ao lado dos socialistas contra os Estados Unidos e Vietnã do Sul. Os túneis Cu Chi também são conhecidos por terem sido a estratégia usada para derrotar os Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
A invasão americana fez com que eles buscassem maneiras de proteção e os túneis foram uma solução encontrada e muito eficiente. A escavação foi feita com pás, e em alguns momentos, com as próprias mãos e resultou em um total de 120 km de extensão e 20 metros de profundidade.
Essa malha subterrânea criada pelos vietcongues tinha a capacidade de abrigar milhares de pessoas por vários meses. Os túneis não eram apenas simples passagens, e sim cidades subterrâneas. Cidades em forma de labirinto, mas onde haviam cozinhas equipadas, ambulatórios e muitas armadilhas para os inimigos.
Como visitar os túneis Cu Chi
Para visitar os túneis é possível comprar o passeio através de alguma agência de viagens instalada na cidade de Ho Chi Minh ou no próprio hotel onde está hospedado. No meu caso, comprei o pacote no meu Hotel, o Icon 36 Ho Chi Minh.
O passeio durou das 08h30 às 13h e custou 550 dongues, aproximadamente R$ 70 (dezembro/2016) incluindo transporte, guia em inglês e entrada. Para quem quiser chegar na cidade já com o passeio organizado, minha sugestão é comprar uma excursão pelos nossos parceiros da Get Your Guide.
Hospedagem em Ho Chi Minh (Saigon)
O hotel onde me hospedei foi o Icon 36 Ho Chi Minh. Gostei da escolhe principalmente pela localização no District 1. É possível conhecer a pé os principais pontos turísticos da cidade.
O que fazer no Complexo de Túneis Cu Chi
O complexo é dividido de maneira a trazer para os visitantes uma imersão e entender o que significou para os vietnamitas viver desta forma. Vou contar abaixo um pouco sobre o que é possível ver no complexo de acordo com a minha experiência de visita.
Primeira parada: artesanato
A primeira parada do tour, não informada no momento da compra, foi em um espaço subsidiado pelo governo, que emprega deficientes físicos, principalmente aqueles que ainda sofrem as consequências do Agente Laranja – gás químico despejado no país pelos americanos durante a guerra.
Neste local, as pessoas confeccionam quadros e outros enfeites artesanalmente. Primeiro assistimos as etapas de preparação dos quadros e depois entramos na loja para adquirir alguns desses produtos.
Antes de dar continuidade ao texto, preciso mencionar que o guia do passeio era um vietnamita do norte, muito sério, com um curioso sotaque texano e uma raiva evidente daqueles que invadiram seu país.
Segunda parada: representação dos túneis Cu Chi
Seguindo viagem chegamos no complexo dos túneis. Passamos por uma grande passagem subterrânea onde tivemos que entregar os ingressos de entrada e saímos do outro lado, na floresta.
A primeira parada foi uma entrada de túnel, daquelas utilizadas na guerra e que são difíceis de entrar – mais fácil para os vietnamitas, que são na sua maioria muito pequenos e magros. Essas entradas são muito estreitas e podem desaparecer de vista facilmente quando a tampa, coberta de folhas é bem posicionada (veja a primeira foto). Esse sumiço repentino dos vietnamitas durante a guerra, deixando os americanos muito intrigados. Mais adiante, encontramos bonecos representando os vietcongues e um tanque de guerra americano que foi dominado pelo grupo.
Terceira parada: armadilhas expostas
Caminhando um pouco mais chegamos em um local onde diversas armadilhas estavam expostas e enfileiradas, e o guia simulava com longo pedaço de madeira o destino dos que caiam nessas armadilhas. A maioria delas era colocada embaixo da terra e coberta por grama. Ao pisar, a vítima poderia cair em um buraco com bambus afiados, ou ter os pés enganchados pelos mesmos.
Para evitar que os vietnamitas fossem vítimas das armadilhas, havia um código para indicar a localização das mesma. Um pequeno graveto perfurando uma folha verde indicava que naquele local havia uma armadilha, com isso os vietnamitas se afastaram e a indicação, no meio da floresta, passava despercebida pelos americanos.
Quarta parada: entrar nos túneis
Um dos momentos mais esperados da visita foi entrar nos túneis. O guia logo avisou que não recomenda para aqueles com fobia de lugares apertados ou algum problema resporatório mais grave. Logo pós descer uma escadinha, já tive que ficar agachada, pois o túnel é muito baixo e estreito, e o ar fica mais pesado. Eu o grupo – aqueles que aceitaram descer – seguimos atrás do guia durante 20 metros, onde há a primeira saída (a cada 20 metros há uma saída).
O guia nos deu a opção de continuar adiante, mas sabendo que o caminho ficaria mais fundo e estreito, ninguém quis se aventurar. Outro exemplo da eficiência dos vietnamitas pode ser observada nos calçados utilizados por eles.
Durante a guerra, os calçados eram feitos de pneus, com tiras do mesmo material. No calor, isso facilita a transpiração e a agilidade em qualquer tipo de superfície. Além disso, eram projetados de trás pra frente, então caso os inimigos desejassem seguir as pegadas, eles seriam levados para o sentido oposto de onde elas realmente seguiam.
- Indicador de armadilhas
- Entrada dos túneis (a fotos que tirei lá dentro ficou ruim, pois é muito escuro)
- Chinelos usados pelos vietnamitas durante a guerra
Quinta parada: centro de visitantes
Para deixar o passeio mais real e aumentar a sensação da guerra durante a visita, é possível ouvir barulhos de tiros de armas utilizadas durante a guerra. Há um centro onde os visitantes podem atirar em alvos. Não ficamos muito tempo neste local, pois ninguém do grupo quis atirar.
Durante o passeio, também visitamos representações do que seriam a cozinha e outros espaços que ficaram dentro da estrutura dos túneis. Por fim, nos foi servido a tapioca, que era o principal e muitas vezes o único alimento dos vietnamitas durante a guerra. Na falta de opções durante a guerra, este alimento era uma boa fonte de de energia. A raiz, na verdade, é mandioca cozinha e servida com farelo de amendoim.
Após provar, fomos até uma sala onde assistimos uma pequena aula com nosso guia, na qual ele nos mostrou mapa da região, mapa dos túneis e nos apresentou mais dados da guerra. Assim terminou a visita aos túneis Cu Chi e fomos levados de volta ao Hotel Icon 36 Ho Chi Minh.
- Local onde os visitantes podem atirar
- Final da visita: do lado esquerdo, um mapa da região com as informaçoes da guerra; ao centro uma imagem de Ho Chi Minh e a bandeira do Vietnã; do lado direito um mapa dos túneis
Eu visitei estes túneis em 2007.
Foi uma experiência muito interessante ver in loco como os vietcongs conseguiram render os inimigos.
Oi Nailize, tudo bem?
Que bom saber que você esteve no Vietnã em 2007. Estive em 2016 e me encantei com o país e a população, foram todos muito gentis e simpáticos!
Sobre os túneis, é realmente muito impressionante ver de perto como construíram toda aquela estrutura complexa dos túneis, as estratégias e a sobrevivência. Embora tenha sido um momento muito triste da história do país, é uma experiência interessante de aprendizado.
Abraços,
Carô